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Fiquei matutando no fim de semana o porquê de certas imagens sempre agradarem, apesar de muitas vezes o clichê ser óbvio; e outras, como as da série de retratos que estou desenvolvendo (exemplo ao lado), causarem tanta resistência, apesar de tão mais próximas da realidade cotidiana de nossos pequenos dramas do dia-a-dia.
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Já imagens mais oníricas, tecnicamente falsas, cheias de pequenos truques como esta (exemplo ao lado) que fiz para ilustrar as diferenças entre um light-painting “verdadeiro” e aqueles feitos no Photoshop, acabam tendo uma aceitação espantosa, principalmente entre os olhos menos treinados (leia-se a maioria dos usuários do Flickr). Como são mundos diferentes, mesmo usando as mesmas ferramentas para sua produção, a linguagem é patentemente outra, e as reações também o são. A origem, no entanto, é a mesma, o desejo de registrar em imagens tanto um quanto outro universo.
O que estou tentando dizer é que as imagens das quais eu gosto, pouca gente gosta; por outro lado, o que todos gostam passou a ser, no meu ponto de vista, referência da obviedade a ser evitada. Ao optar pelo caminho mais difícil, posso estar cometendo um erro enorme; só o tempo dirá!
Claro que imagens autorais devem denunciar, contar histórias, refletir sentimentos e incomodar.
Só que o incômodo causa desconforto ao observador, o que o faz (hopefully) refletir, e assim gerar a possibilidade de novas alternativas.
Acho que acordei com o dial da filosofia ligado. Vou parar por aqui e esperar os comentários…

Exif da foto da Janaína

Exif da foto da Giselle

Exif da foto da Laínne
Se você mantiver o dial da filosofia ligado todo domingo, toda segunda estarei por aqui.
Concordo contigo, Clicio, as fotos de leitura fácil fazem muito mais sucesso, o que, de certa forma, nos põe a pensar sobre as de difícil digestão, não?
Clício, tô acompanhando seu blog justamente por abrir esses questionamentos, além de nos dar preciosas dicas e referências.
Adoro todo tipo de imagem, sendo clichê, ou não. Acho que cada foto tem sua beleza, mesmas poses, mesmas técnicas, o que importa é uma imagem bem executada e estudada, um pouco de influência artística e criatividade dão o grande diferencial.
Defendo as clichês bem executadas, e aplaudo as fotos chocantes, brilhantes, ou apenas “diferentes”.
grande abraço
Stefano, obrigado por acompanhar e refletir!
Dodô, meu modo de pensar é semelhante ao seu, com a diferença de tentar ser mais seletivo e questionar o porquê das fotos “fáceis”. Ao optar pelo caminho mais difícil, posso estar cometendo um erro enorme; só o tempo dirá!
Obrigado por comentarem.
“optar pelo caminho mais difícil, posso estar cometendo um erro enorme; só o tempo dirá!”
em compensação, esse caminho mais difícil abre as portas da inovação e da reflexão, o que o torna desbravador e único, além de despertar o pensamento crítico e reflexivo do observador. Faz com que este saia da sua zona de conforto.
abração Clício
Apedar de gostar de alguns trabalhos “óbvios”, qualquer coisa além do óbvio me interessa. E muito.
Algumas vezes arrisquei coisas assim, e não tive uma aceitação legal no Flickr, ao contrário do que acontece com aquelas óbvias, clichês, de leitura fácil… Por quê? Talvez seja mesmo porque são “fáceis”, cômodas…
Erro? Talvez… Não correr riscos gera paralisia, estagnação… eu heim? Queria que todo o meu trabalho fosse “difícil”, não óbvio, diferente, criativo… mas sair da zona de conforto como o Eduardo falou, não é mole não… é preciso se permitir, estar atento…
Vanguarda, desconstrução, loucura, ou sei lá que nome tem isso… eu quero é mais!
Admiro-o por tudo!
Beijão!
Há algum tempo uma amiga pediu minha opinião sobre umas fotos. Eram bacanas, falei pra ela que eram boas fotos… pro fotolog/flickr. Fotos bem feitas, mas óbvias, como se via às dúzias no site. Apesar de todo meu cuidado, ofendi a autora das fotos. Não era minha intenção, já que eu mesmo me encaixaria no comentário, se fosse avaliar as minhas fotografias.
Tenho uma certa dificuldade neste sentido. Me incomodo em tirar as fotos óbvias, achando que alguém já fez aquela captura ou que qualquer um chegaria ali e faria uma imagem igual ou melhor. O resultado é que acabdo fotografando pouquíssimo, já que nem sempre tenho estes lampejos de criatividade para fazer alguma coisa mais inovadora ou instigante. Não posso negar que acabo sempre caindo um pouco no óbvio, meio por falta de opção ou talento 🙂
Acredito muito em uma alusão ao extraquadro. Numa foto que vai além das suas quatro linhas. O que você chama de caminho mais difícil, creio ser exatamente a imagem que vai nessa direção. Que não está, digamos, pronta. Que sugere algo além dela mesma. A foto clichê pode ser bonita plasticamente, pode nos dar prazer em observar (e muitas vezes dá mesmo!), mas na grande maioria das vezes, se encerra nela mesma. Penso nesse sentido. O “difícil” é um ótimo risco a ser corrido.
Abraços,
Guto;
Difícil também é pagar a escolinha da Helena no fim do mês.
Por isso o óbvio nos engole, como uma imensa geleca…
Clicio, acho que a síntese deste tema se resume neste seu comentário.
Clichê só é clichê porque todo mundo faz, se se faz é porque é uma tendência; sendo assim os clientes querem o que “ta na moda” e como eles são nossos patrões (que pagam a escolinha da Helena) não podemos sair muiito desta linha.
E assim seguem os ciclos artísticos, os movimentos , as releituras etc.
Sou a favor dos dois tipos, de dificil e fácil interpretação. Isto vai de acordo com o nível intelecual do público-alvo. Quanto maior for, mais dificil pode ser a interpretação da foto. Tente dar caviar ou um salmão bem preparado para um trabalhador de obra civil ao invés de dar o famoso arroz, feijão, tomate, polenta e carne de panela. Qual ele irá preferir? Inverta a situação para um alto excetutivo ou grande empresário.
Como a maioria das foto publicitárias são de produtos/serviços que atigem a massa da população, então acho que ai está o porque a maioria dos clientes preferem os clichês.
Imagino que com a lei do progresso, haverá um momento em que poderemos abusar das foto mais artísticas de dificil ou multiplas interpretações e estas, queira Deus, custarão bem mais caras que os clichês!.
Bom lembrar que este é apenas meu ponto de vista.
Pois é… a escolinha e câmeras, lentes, laptop, cursos, etc.
Mas aí o que fazemos? Nada?
Acho que a mídia em geral subestima a inteligência de seu público. Como se desenvolve o raciocínio de uma pessoa se ela nunca é instigada a pensar?
É claro que temos contas a pagar, mas se há uma coisa que eu tenho certeza que quero é que a Helena cresça sabendo que tudo é muito maior do que aquilo que se coloca à sua frente.
Não sou contra fazer o óbvio. Sou contra se fazer só o óbvio.
Isso pode ser obvio, mas, ns minhs opinião, o artista deve seguir o que sente e não o que os outros sentem. Obvio, clichê, ou arriscado, o trabalho honesto terá seu público.
Olá Clicio,
Sou designer gráfico e fotografo amador e venho acompanhando as video aulas de Lightroom. Por sinal ótimas parabéns!
Concordo plenamente contigo e vivêncio isso na esfera do design gráfico, onde considero que temos os “clichês mais populares” e ainda o “clichê cool”, onde os próprios designers ficam seguindo sempre a mesma tendência pasteurizada.
Acredito que na fotografia temos o mesmo.
Grande abraço.
O clichê é mais aceitável porque é mais facilmente absorvido. Quando as pessoas reconhecem qualidade num incômodo é que o artista passa a ter estilo reconhecido, não? O difícil deve ser sair do clichê particular depois…..
Parabéns pelo blog.
Passei pra conferir e adorei a reflexão sobre o tema… Mas é muito difícil não banalizar!
[…] a ver com alguns dos meus posts mais antigos , como Gente Normal, Bert Stern e Kate Moss, ou o Weird Feelings. Ostia, Italy, 1991 – Peter […]
entendo o que você fala…
Clicio,
eu que faço casamentos convivo este dilema frequentemente. Muitas vezes acho uma foto maravilhosa, pela técnica, pelo tratamento, por necessitar de um interpretação mais profunda, e o cliente muitas vezes pede para excluir aquela foto da seleção. Nessas horas eu me questiono muito, achando que o meu olhar está fora da realidade do meu público, me obrigando render-se aos modismos que os clientes denominam como “diferente”.
Quando observo fotos que exigem interpretações mais profundas, dramáticas, fico tentando encontrar a mensagem que a foto pretende passar. Como tudo é muito subjetivo, a minha conclusão é que sempre o lado cultural influencia no olhar de cada um. Quanto maior for a cultura artistica do observador, mais ampla será sua visão da arte. Por isso que me cobro muito quando não consigo dar valor a certos tipos de fotografias, pois tenho certeza que nela está embutida um conhecimento que eu ainda não alcancei, com isso também acabo entendendo a intepretação que alguns clientes fazem de fotos como a citada no início.
É muito bom compartilhar essas situações do nosso dia-a-dia, ainda mais sabendo que fotógrafos como você, muito mais experiente do que eu, sofrem com os mesmos dilemas.
Estou sempre acompanhado o blog.
Um abraço.
Alessandro Varela.
[…] a ver com alguns dos meus posts mais antigos , como Gente Normal, Bert Stern e Kate Moss, ou o Weird Feelings. Ostia, Italy, 1991 – Peter […]