A associação da qual sou presidente, a Fototech, tem uma parceria antiga (em forma de desconto de 10%) com a Digipix.
Como muitos sabem, eu conheço o dono da empresa, Marco Perlman, desde o início da Digipix. Nesses 4 anos imprimi inúmeros livros e prestei serviços como diagramação, gerenciamento de cores e palestras para a empresa.
Também conheço e respeito muitissimo o trabalho do Gal Oppido, um dos expoentes da fotografia nacional sob qualquer aspecto.
Em nome destas parcerias e de nosso relacionamento comercial de anos, marquei e fui a uma longa reunião para, em nome dos associados da Fototech e em meu próprio, cobrar uma posição e uma explicação da empresa sobre o ocorrido com o livro do Gal.
Depois de muito ouvir e de muito questionar, ficou claro que a Digipix entende que agiu dentro do que está escrito em seu termo de concordância; legalmente é uma decisão que preserva a empresa, que segundo a diretoria não pode comercialmente correr o risco de permitir a impressão de qualquer imagem que remotamente possa ser associada a pornografia.
Não foi a primeira vez que isso ocorreu, e nem será a última. Há precedentes, e o procedimento nos outros casos, foi o mesmo.
Entendi isso perfeitamente. Empresarialmente faz sentido (sem julgamentos morais, por enquanto).
Conhecendo o Marco e a Patrícia como conheço, também ficou claro que *não foi e nem poderia ser* uma decisão moral/religiosa. Política e empresarial, certamente, mas não moral nem religiosa.
Isto entendido, entendi também que a empresa não ter um método de analisar as imagens *antes* do trabalho ser impresso, é no mínimo imprudente. Mesmo acarretando todos os prejuízos de mais tempo, treinamento de pessoal e eventuais atrasos na produção, a recusa deveria ocorrer no início da produção. O cliente não deveria receber a notícia na última hora, com o produto já pronto e em seguida destruído.
Este certamente foi o maior prejuízo do Gal; não ter tido tempo de solucionar a impressão do seu portfólio, acarretando prejuízos tangíveis e reais ao fotógrafo (ainda sem tocarmos nos julgamentos morais).
O termo de contrato deveria ter mais destaque no site. A maioria nem o lê, e eu disse isso ao Marco, recebendo por resposta a sua decisão de aumentar a visibilidade e a importância do termo ser lido *antes* da concordância.
Agora a parte moral; eu pessoalmente, como a maioria dos fotógrafos, tenho verdadeiro horror a censura, especialmente quando envolva a nossa área, visual. Minha reação foi ficar indignado com o ocorrido com o Gal. Por outro lado, não posso nem imaginar estar nesta posição da Digipix, um dilema imenso, ter que julgar se é ou não arte, se a decisão vai melhorar ou piorar a imagem da empresa, se é o Gal, o Zé das Couves ou o Mapplethorpe.
A decisão deles (e não a vou julgar, por não ter competência para tal) foi a de não estabelecer dois pesos e duas medidas; se vale para o Zé das Couves, vale para o Gal.
Se eu, Clicio Barroso, fosse o dono da empresa, provavelmente deixaria o meu lado fotógrafo falar mais alto que o meu lado empresário, entenderia quem é o Gal Oppido, com o peso e significado do seu trabalho, e não hesitaria em entregar o livro, *mesmo colocando em risco* a imagem da empresa frente aos setores mais conservadores.
Mas eu não sou dono da empresa.
Entendo e sou totalmente solidário ao fotógrafo e artista Gal, e acho que ele saiu muito prejudicado desta história; também entendo o empresário Marco, e acho que a Digipix saiu muito prejudicada e desgastou sua imagem junto a uma considerável parcela deste nosso mercado.
Uma situação infeliz para todos, “lose-lose”.
Mas nada vai mudar o acontecido; já aconteceu, e o assunto já foi analisado por todos os ângulos possíveis, desde os mais passionais até os mais técnicos.
Uma pena, mas espero que a Digipix mude alguns procedimentos para que imbroglios como esse não voltem a ocorrer.
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